sábado, 24 de outubro de 2015

AS NOVAS AVENTURAS DO CAPITÃO CONTRADITÓRIO



Por:Hds


Sam Wilson não é o primeiro e não será o último a tomar atitudes incoerentes nos quadrinhos.
Sinto falta da época em que podia ler uma revista em quadrinhos sem que fosse soterrado por uma avalanche de discursos panfletários e temas políticos que somente servem para apodrecer uma boa história imaginativa.

Não é de hoje que se veem personagens sendo usados como porta vozes de ideologias,vociferando queixas descabidas e deslocadas dentro de produtos que foram feitos para divertir crianças e não servir de válvula de escape para neuroses de adultos.Isso inclui também a velha moda entre os heróis que representam o estilo de vida americano:a negação de sua nacionalidade.

 A revista Capitain America Sam Wilson nº1 traz o novo capitão que de início já se mostra contrário ao governo,rompendo com o mesmo sob a velha justificativa de que "o capitão américa representa mais que o governo americano e seus interesses".Desse modo,ele vai se desligar do governo e da Shield.Essa trama vem acompanhada de um oportuno momento na sociedade americana:as eleições presidenciais do próximo ano.

Sam Wilson tem o poder de matar seus inimigos de tédio com seus diálogos chatos.
Com desenhos de Daniel Acunã e roteiro de Nick Spenser o novo capitão vai agora discorrer nas páginas do quadrinho sobre assuntos como:minorias raciais,partidos,a política nas fronteiras americanas e o próprio vigilantismo.Transformando o que poderia ser entretenimento em palanque para discursos incrivelmente boçais e tediosos.

O tom da revista não foi dado só pelo critério pessoal de Nick Spenser já que há algum tempo a Marvel vinha abrindo espaço para o proselitismo barato nas suas redações.O capitão de Ed Brubaker está aí de prova.É triste notar como estamos vivendo num tempo em que os quadrinhos estão sendo inundados por lavagens cerebrais cada vez mais desonestas e descaradas,não deixando espaço para roteiristas e editores trabalharem no que realmente fez deles o que são:aventuras empolgantes e ficção descompromissada.

O Capitão foi aplaudido por combater nazistas na 2º guerra,hoje é criticado por representar a mesma América.
Tanto na Marvel como na DC corre pelos prédios das grandes editoras a pressão para que os quadrinhos se tornem palco para debates que nunca deveriam constar na rotina de um leitor infantil de HQs.O incômodo e desnecessário falatório sobre "diversidade" que jamais interessaria a uma criança que quer somente passar o tempo lendo uma boa sequência de ação.

Na história, a atitude do capitão é bem recebida pela sociedade e duramente criticada pela imprensa.O truque de Nick está no fato de que a maioria está do lado do capitão e somente a "perversa imprensa e os conservadores" estão atacando e xingando o herói de ''Capitão Socialista".O autor tomou espertamente a dianteira definindo o capitão como um visionário que enxerga "além da cartilha do bom cidadão americano" e volta sua atenção para os refugiados e menosprezados da América.Sendo assim,qualquer um que o critique, por conclusão de uma lógica torta, só pode ser um reacionário antiquado e mesquinho.

Muitas pessoas que estão comentando essa notícia (lá fora e aqui no Brasil) usam o batido argumento de que "o Capitão América original já havia feito isso antes várias vezes".Mas isso só prova uma verdade que está cada vez mais evidente: que já existe gente dentro das editoras impondo essas ideias há décadas atrás.

Na década de 70 Steve Rogers ficou profundamente decepcionado com os escândalos de Watergate e resolveu viajar pelos EUA com uma nova identidade:O Nômade.Durante a viagem entra em contato com todos os problemas e revindicações do povo,inclusive foi neste período que ele conheceu o Falcão.

O Capitão América troca a bandeira americana pelo anonimato.
Quem vinha acompanhando as histórias de Steve Rogers, deve ter percebido que o herói foi sendo cada vez mais escanteado.Primeiro tivemos uma cisão entre o capitão e o governo querendo registrar e controlar atividades super-heróicas,depois ele foi simplesmente morto e agora a pouco retornou velho e sem o soro que o tornou poderoso.Tudo isso para afastar o antigo personagem e substituí-lo por um "mais adequado aos tempos atuais".
O velho Steve Rogers funciona como uma metáfora para os valores americanos que teriam "envelhecido".
É até engraçado falar sobre o estranhamento que uma criança ou adolescente pode ter lendo uma revista como essa,tendo em vista que a média dos leitores de quadrinhos (tanto nos EUA como no Brasil) ultrapassou os 25 anos.Talvez seja exatamente por isso que as editoras estejam tão preocupadas em transmitir "mensagens" a esses mesmos leitores.Mas o tiro vai acabar saindo pela culatra,pois a maioria dos leitores de quadrinhos daqui e dos EUA tem um nível de instrução política medíocre.Se não fosse assim, não seriam tão suscetíveis à causas pré-fabricadas, como as mostradas nos quadrinhos da Marvel atualmente.


Existe uma sequência em que Sam questiona se o capitão não deveria ser mais que um símbolo.Curioso o fato de que a figura do capitão não possa ser um símbolo,mas sirva como símbolo para chamar atenção para todas as questões que a editora acha relevantes.Ou seja o que a editora e o roteirista estão dizendo é:"ele pode representar algo,desde que seja algo com o qual nós concordamos".

Lá nos Estados Unidos já virou rotina a Marvel e a DC adotarem a "política de diversidade" dentro de seus escritórios.E chegamos ao cúmulo de haver uma espécie de cota para empregados que pertençam a algum tipo de minoria.Na prática o que teremos são bons escritores e desenhistas perdendo oportunidades de trabalho,mesmo tendo talento,para feministas dementes como Gail Simone que se encaixam nos padrões politicamente corretos das empresas.

Aqui no Brasil,os jornalistas,críticos,blogueiros e vlogueiros se limitam a repetir tudo que vem de fora como papagaios.Sem nenhuma opinião.Sem procurar entender de onde vem cada nova "onda" das HQs americanas.Não entendem que o que está sendo sacrificado aqui é, acima de tudo, a qualidade das histórias que consumimos.

As vendas de quadrinhos jamais vão voltar a ser o que foram.As editoras deveriam entender que quadrinhos não são como um novo GTA ou iPhone e não tem condição de render milhões de dólares como os ingressos de Vingadores no cinema.E não é transformando os quadrinhos em sermões soníferos e cagação de regra politicamente correta que vão melhorar isso.Os leitores devem virar as costas para essa discussão panfletária e raivosa.O que importam são as boas histórias,os desenhos imersivos,as sequências memoráveis e personagens cativantes.O resto é pura baboseira propagandista.

























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