domingo, 18 de janeiro de 2015

HISTÓRIAS DE ZUMBIS NÃO SÃO NOVELAS MEXICANAS



Por:Hds.


The Walking Dead foi lançado em outubro de 2003 pela Image Comics tendo Tony Moore (números 1 a 6) e Charlie Adlard (número 7 até o presente) nos desenhos, e  Robert Kirkman no roteiro. Em 2006 a 33° edição bateu seu recorde de venda, o que abriu caminho para a tão famosa série do canal AMC. O apelo da historia é simplesmente inegável: do dia para a noite estamos ambientados num mundo destruído, sem comida, energia segurança ou qualquer traço de conforto.

A construção do cenário é feita valendo-se de uma colcha de retalhos feita de situações, personagens e tramas tiradas de filmes que abusaram do tema anteriormente. Por mais contraditório que pareça, eu não li os quadrinhos. Mas a proposta da série me atraiu bem como deve ter atraído outros milhões de pessoas, sendo elas leitores ou não. Mesmo vivendo numa época conturbada em que a indústria de quadrinhos usa de recursos cada vez mais apelativos e manjados, voçê consegue imaginar como uma revista totalmente desconhecida, sem super-heróis e impressa em preto e branco conquistou tanta popularidade? Pois é, esse é o tamanho do sucesso de Walking Dead.

O que me fez escrever este texto não foi o fato de ser um fã incondicional desse universo dos mortos,e sim ter percebido nos poucos episódios e edições que li elementos comuns nesse tipo de trama: uma incongruência bem simples de ser percebida.

Todo mundo já assistiu algum filme onde pessoas se encontram numa situação de ameaça ou catástrofe iminente certo? Então pelo menos uma vez você deve ter se irritado com as decisões idiotas tomadas pelos protagonistas em momentos perigo crônico. O raciocínio torto, a escolha do caminho notoriamente mais difícil ou sacrifícios sem pé nem cabeça justificados por uma nobreza que beira a estupidez. Pois saiba que isso é praticamente uma regra no mundo do entretenimento americano.

Filmes como Armageddon, Impacto Profundo e O Dia Depois de Amanhã acabam tirando sua atenção do suspense com uma súbita risada involuntária ou mesmo a sensação de “o que diabo foi isso?” E isso acontece por um  motivo bem simples e conveniente: os produtores e roteiristas querem convencer o espectador da forma mais forçada possível que o povo americano é capaz de ser amável e sentimental,mesmo nas situações mais urgentes.

Não importa se uma explosão vulcânica ameaça lançar uma nuvem mortal sobre a atmosfera. Uma horda de zumbis avança pelas ruas estraçalhando quem estiver no caminho. Ou que a terrível nova era glacial faça sua carne e sangue virar gelo. Sempre dá pra parar um pouquinho e por aqueles sentimentos conflitantes em dia. Discutir a relação depois daquela briga com sua adorável namoradinha de infância. Juntar coragem para dizer o quanto a ama desde que a viu pela primeira vez ou então reaproximar-se do pai que já não via a um bom tempo. São momentos tão lindos nesses filmes que podem parar o tempo enquanto rochas fumegantes caem sobre cabeças de pobres coitados do elenco de apoio. Afinal de contas quem se importa com eles não é mesmo?





Todas essas inconsistências gritantes me fazem acreditar que se houvesse a chance de alguém escapar da morte,dificilmente seriam pessoas inseguras,choronas e burras que conseguiriam essa façanha. 

Em The Walking Dead temos quadro de destruição, poucos recursos e fontes de energia. Sendo assim, não seria difícil imaginar que um grupo de pessoas que conhecesse bem o mapa do estado, com seus pontos de abastecimento de comida, água, combustível,remédios e equipamentos úteis teria uma enorme vantagem. Os mortos podem contaminá-lo com mordidas, então encontre uma vestimenta com revestimento em Kevlar, escudo e capacetes usados em tropas de choque contra alto-impacto e facões ou bastões de choque (balas gastam rápido e te forçam a voltar diversas vezes nas lojas de armamento). Andar nas ruas desprotegido, sem qualquer plano de deslocamento viável seria suicídio. Cidades grandes estão apinhadas de infectados, por isso, é bem mais inteligente usar carros blindados ou modificados para se locomover. Sem falar que tentar se esconder naquela cabana típica de interior: velha e com tábuas de madeira caindo aos pedaços não é uma ideia das mais espertas. Melhor achar um lugar com paredes altas, estrutura resistente localizada em lugares altos de acesso bastante remoto.

Apesar dos clichês e personagens devidamente acomodados em seus respectivos estereótipos, dos momentos que remetem ao mais do mesmo de filmes e de passagens como aquela dos primeiros episódios onde americanos despreocupados comem marshmallows e conversam sobre seu estilo de vida em volta de uma fogueira, no escuro e virados de costas para uma floresta tenebrosa. A série merece ser vista. Entendo que a ideia de “pessoas comuns em situações extremas” é usada sempre para facilitar nas tramas e oferecer o ponto de vista “humano”. Mas alguns autores deveriam lembrar que ser humano não significa necessariamente ser estúpido ou irracional.

Mesmo que você não tenha a intenção de assistir todos os episódios,mesmo que produção mostre sequências com diálogos longos e arrastados e acabe sendo esticada para render doze temporadas só pra vender uma avalanche de produtos derivados,a série ainda possui méritos na execução muito bem acabada, efeitos e maquiagem excelentes. Com várias outras melhores sendo exibidas, ainda é possível parar para vê-la um pouco. Nem que seja só pra saber com eles vão sair daquela enrascada.Ah! E o tema de abertura composta por Bear McCreary também não é de se jogar fora.






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